Abstract:
Clarice Lispector, autora brasileira do século XX, deixou alguns fragmentos, recolhidos depois da sua morte, pela sua amiga Olga Borelli no livro que tem o título de Um sopro de vida – pulsações, um diálogo entre um Autor anónimo e Ângela Pralini, mulher que ele criou porque precisava de se ver ao espelho, num reflexo que não fosse o seu.
Neste diálogo desconexo, o autor e Ângela, enfrentam vários temas como a impossibilidade da comunicação total e absoluta através da palavra, a questão do tempo que foge, a indagação do sentido mais profundo da vida; e tudo isso mediante o estilo inconfundível e íntimo de Clarice, escritora que com sua obra transformou e valorizou ainda mais a literatura brasileira.
Este tentativo de Clarice de poder dizer o indizível através das palavras, transforma-se num desafio por quem se aventura na tradução da sua obra. Na tradução de uma língua para outra, só se pode aproximar-se ao sentido, mas é impossível exprimir todas as possibilidades de sentidos que os acostamentos das palavras produzem na língua de origem. No caso de Clarice Lispector é ainda mais difícil porque, além de ter que enfrentar os limites da tradução, o tradutor tem que interpretar as sugestões do indizível, o silêncio, o que não se pode exprimir através das palavras e fica como uma sombra atrás do sentido da frase.
Este trabalho quer propor uma tradução de Um sopro de vida (pulsações) e mostrar quais são os principais desafios que se podem encontrar quando se traduz um texto literário da língua portuguesa para a língua italiana, em particular os jogos de sintaxe que a autora criou para exprimir suas ideias através de um português brasileiro às vezes coloquial e às vezes extremamente preciso e técnico nos termos utilizados.