Abstract:
Uma das consequências da descolonização dos países africanos foi o aparecimento na realidade portuguesa de um novo grupo social, constituído pelos cidadãos que regressaram ao país depois de ter abandonado as colónias onde tinham construído as suas vidas.
Para definir estas pessoas entrou em uso o termo ‘retornado’, que se revelou em muitas ocasiões aproximativo, não conseguindo representar uma categoria tão heterogênea, e que amiúde assumiu conotações negativas, devido à quantidade de incompreensões ligadas ao complexo período histórico, político e social em que se verificou o retorno.
A presente tese propõe-se portanto formular uma proposta de representação destas figuras que, graças às suas vivências, se configuram como uma ponte entre passado e presente e resultam fundamentais para a compreensão da identidade portuguesa pós-colonial.
O primeiro capítulo será dedicado inicialmente à análise histórico-política das fases dos projetos coloniais desenvolvidos entre os séculos XIX e XX, com maior enfoque no contexto moçambicano, até chegar ao ponto de rotura representado pela Revolução dos Cravos, que levou ao êxodo dos nacionais residentes nas províncias ultramarinas. Em segundo lugar será aprofundado de forma crítica o processo de reinserção social dos retornados, evidenciando os êxitos e as falhas de uma inclusão que por muitos ainda está por chegar.
O segundo capítulo abordará o surgimento da ‘literatura dos retornados’, o subgénero que reúne as vozes dos autores que nas últimas décadas têm compartilhado as suas experiências de vida ligadas a este crítico processo.
Finalmente, no terceiro capítulo será avançada uma proposta de tradução para o italiano do romance A Gorda (2016) de Isabela Figueiredo, escritora contemporânea reconhecida como uma das representantes deste grupo literário pós-colonial.